Logo que a Polícia Civil apontou Marcelo Eduardo
Pesseghini, de 13 anos, como o principal suspeito de matar os pais — policiais
militares —, a avó e a tia-avó e depois se suicidar, parentes, vizinhos,
professores e a médica dele, o descreveram como sendo um adolescente calmo,
tímido e apegado à família. No entanto, os depoimentos ouvidos pelos
investigadores durante esta semana traçaram um perfil diferente, de um rapaz
agressivo e frio.
Inicialmente, o colégio Stella Rodrigues, onde o
jovem estudava, divulgou uma nota dizendo que, no dia em que os corpos foram
encontrados, “Marcelo se comportou normalmente como sempre”. “Não deu nenhuma
mostra de estar em choque. O
que aconteceu, aconteceu fora do ambiente escolar! É incompreensível. Não houve
indício que anunciasse nenhuma tragédia”, diz um trecho da nota. A escola
também define Marcelo como “um garoto dócil, alegre, com boas relações com os
colegas e com o corpo docente do colégio”, diz o texto.
Contradição
Em depoimento no DHPP (Departamento de Homicídios
e Proteção à Pessoa), na quinta-feira (15), a diretora da instituição deu outra
declaração. Ela disse que o adolescente passou a ter um comportamento
“estranho” desde abril. Segundo ela, ele teria ficado mais “fechado”. Na
internet, pessoas
se revoltaram com as afirmações feitas pela educadora.
Amigos
A polícia diz já ter ouvido seis amigos de
Marcelo. No entanto, um dia após o crime, o delegado Itagiba Vieira Franco
falou que o rapaz tinha apenas um amigo, com que conversava mais. Esse teria
sido o colega que o levou de casa para a escola. Um menino que foi interrogado
na quinta-feira, disse que Marcelo o convidou para participar da chacina e
falou que ele disse a várias pessoas que queria matar os pais, fugir e se
tornar um assassino de aluguel.
Acesso a armas
À polícia, um parente dos Pesseghini relatou que,
duas semanas antes do crime, durante um encontro de família, o garoto pegou a
arma do pai e apontou para todos que estavam presentes. Em outra ocasião, ele
teria pegado a pistola após a campainha tocar e dito que “se fosse intruso,
iria atirar para matar”. Porém, até então, nenhum familiar havia confirmado se
Marcelo sabia atirar ou se tinha acesso livre às armas dos pais. Um soldado
amigo de Andreia falou aos investigadores, na semana passada, que o adolescente
sabia atirar.
Vizinhança
Vizinhos da família também foram chamados para
prestar depoimento. Uma mulher contou que sempre via Marcelo na calçada de casa
com uma arma de brinquedo. Segundo ela, o rapaz atirava em passarinhos e até em
pessoas que passavam. Outra vizinha contou que sempre via o rapaz tirando o
carro da garagem.
Segundo tiro
Demorou quase duas semanas para que fosse
divulgada a informação de que Benedita Oliveira Bovo, avó de Marcelo, levou um
segundo tiro. Além da cabeça, ela também foi baleada no punho. A Polícia Civil,
até então, havia dito que todas as vítimas foram atingidas por um único disparo
na cabeça.
Medicamentos
A pneumologista Neiva Damasceno, que tratava da
fibrose cística de Marcelo desde que ele tinha um ano de idade, garantiu que os
medicamentos
que o adolescente tomava não poderiam ter influenciado o
comportamento dele. Ela ainda se disse chocada com o que aconteceu
— Menino lindo, muito educado, carinhoso, nunca
teve qualquer transtorno de comportamento, nunca deu trabalho. Assustadoramente
inexplicável.
O psiquiatra forense Guido Palomba discorda. Na
opinião dele, os remédios
podem, sim, ter contribuído.
— Ele tomava remédios fortes, para a doença. Até
uma Aspirina modifica o psiquismo. Claro que não vai e você vai perder as suas
ideias já arraigadas, mas pode ser uma concausa, não a causa. Ela entra como
mais um elemento na fórmula.
DHPP
Procurada para comentar o caso, a diretora do
DHPP, Elisabete Sato, disse que não vai se pronunciar até o fim das
investigações. A polícia ainda aguarda os cinco laudos, dois do IML (Instituto
Médico Legal) e três do IC (Instituto de Criminalística). Apenas após os
resultados é que o inquérito deverá ser concluído, segundo a delegada.
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